terça-feira, 10 de julho de 2012

Dom Eugênio Sales: “A morte é a passagem para uma vida definitiva”

Dois dias antes de completar 90 anos, em dezembro de 2010, o Cardeal do Rio de Janeiro, acariense Dom Eugênio de Araújo Sales, concedeu entrevista ao Extra Online.
Eis a íntegra da conversa com o jornalista Bruno Rohde.
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Em seu escritório, em Ipanema, Dom Eugenio conserva a simplicidade. Poucos móveis e uma foto dele com o Papa Bento XVI decoram o lugar. Imagens religiosas, livros, além de miniaturas das bandeiras do Brasil e do Vaticano repousam sobre sua mesa. Durante os 30 minutos de conversa com o EXTRA, Dom Eugenio falou sobre todos os assuntos, da aposentadoria, passando pelos casos de pedofilia na Igreja Católica e o medo da morte. Riu ao ser perguntado se era progressista ou conservador e disse estar contente com sua vida.
Extra – O que o senhor sentiu quando sua renúncia como arcebispo do Rio foi aceita pelo Vaticano, em 2001?
Dom Eugênio – É sempre um vazio. Mas eu ocupo bastante o meu tempo servindo às necessidades do Rio de Janeiro.
Extra - Em seu discurso de posse como arcebispo do Rio, em 1971, o senhor disse: “esta imensa metrópole continua sendo, sob vários aspectos, o coração do Brasil”. O senhor considera o Rio ainda o coração do Brasil? Por que decidiu seguir morando aqui?
Dom Eugênio - Considero, mesmo com as dificuldades, etc. Mas o Rio representa tudo o que se deseja. Preferi ficar aqui. Tinha muitos laços de amizade. Dei-me muito bem aqui. Não me arrependo dessa escolha.
Extra - Como senhor vê os padres que têm envolvimento com a pedofilia?
Dom Eugênio - Há uma manipulação desses crimes – que foram cometidos – como se a Igreja tivesse se desligado de combatê-los. Não, a Igreja sempre combateu. O Papa Bento XVI tem sido muito enérgico. É um mal que existe não só na Igreja, mas existe nas famílias também.
Extra - O senhor ajudou a proteger perseguidos pelo regime militar. Por que?
Dom Eugênio - Eu não aparecia como sendo um político, eu me apresentava como um pastor. Também não atacava, e sim defendia. Nem sempre eu alcançava êxito, mas eu não me omitia nunca.
Extra - O senhor, em algum momento, sente medo da morte?
Dom Eugênio - Não, não. A morte é algo inevitável. A gente sente a ausência porque a morte é sempre uma coisa que não era para ocorrer. O homem não devia morrer. Mas a morte é a passagem para uma vida definitiva.

Extra - O senhor se considera um homem conservador ou um progressista?
Dom Eugênio - Considero-me só um pastor. Nunca passou pela minha cabeça ser progressista, nem ser conservador, mas sim ser o que devo ser. Isto é trabalhar, explicar o evangelho e ter consideração pelas pessoas.

O senhor tem uma história de proximidade com Dom Helder Câmara, não é?
Dom Eugênio - Éramos bons amigos. Pensávamos diferente, mas havia uma amizade profunda. Ele sempre me ajudou. Nunca houve atrito. Havia posições diferentes, mas mútua compreensão.

Como é a rotina do senhor atualmente?
Dom Eugênio - Continuo trabalhando, não vou parar. Dou expediente todos os dias, respondo correspondências e isso me satisfaz. Estou contente.
Dom Eugênio Sales (Foto: Bruno Rohde - Extra)
Fonte: Thaisa Galvão

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